
"E quem disse que pra falar de amor é necessário um 'português correto'?" . É a pergunta que nos fazemos ao ouvir, Ai se Sesse! do poeta Zé da Luz declamada por Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado.
Ai! Se sêsse
Zé da Luz*
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
*Severino de Andrade
Silva (Zé da Luz), nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro -RJ, em 12/02/1965
Para nós, nordestinos, vocábulos como oxente e arretado passam geralmente desapercebidos: são tão costumeiros quanto levantar da cama e se espreguiçar. Mas aí é que tá o "xis" da questão: Nossa variedade linguística é frequentemente zombada ou menosprezada por 'sulistas, gramáticos e gramáticas'. Afinal, tantas palavras anglosaxônicas foram introduzidas e aceitas na norma linguística portuguesa brasileira, tais como: target, top, upgrade... por que nossos dialetos, nossas variedades, são totalmente banalizadas? Nasceram em nosso chão e fortalecem nossa cultura, e quando são pronunciadas para alguém que a desconhecem (ou fingem que não existe) são desrespeitosamente estranhadas (na melhor das hipóteses), como se fossemos extraterrestres falantes de de um tupi-marciano.
Ah! Eu falo sim,
nordestinês, melhor, PERNAMBUQUÊS! E isso não significa baixo nível de Q.I. ou ignorância do PP (Português Padrão).
E tenho dito!